quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Encontro com Ser Desperto

 
Encontro com Ser Desperto

Foi publicada no ano 2.000 uma entrevista com o “Seu Manuelzinho” (MANOEL FEREIRA DE ALMEIDA) que, segundo o professor Waldo Vieira, era um ser Desperto, isto é, uma personalidade que na escala evolutiva é aquela que não sofre mais assédio ou interferências extrafísicas doentias. Essa condição da desperticidade, foi a temática desse encontro realizado pelo conscienciólogo Jarbas Paranhos.
Passados mais de 10 anos dessa entrevista, o também conscienciólogo Alexandre Pereira fez uma nova entrevista para o site Consciência Lúcida com Jarbas Paranhos, atual voluntário da ASSIPI, sobre seus contatos com Manuelzinho. Na primeira parte dessa matéria está a conversa com Jarbas, realizada no final de 2011, e a segunda parte contém a entrevista original e completa - contendo trechos inéditos ainda não publicados até o momento. Manuelzinho desencarnou em 03 de Janeiro de 2006 com 92 anos.

Consciência Lúcida: Como surgiu a idéia de entrevistar o Seu Manuelzinho?
Jarbas Paranhos: Eu havia comentado com o Professor Waldo Vieira que queria realizar uma entrevista com o Manuelzinho desde que soube que ele era um Desperto. Como o Manuelzinho era um pouco reservado, achei que poderia conseguir mais informações por ser da mesma cidade que ele (Monte Carmelo) e já conhecê-lo desde criança. O Professor Waldo concordou e deu a dica: “Com o Manuelzinho é tudo na base da energia. Chegue firme com suas energias para que ele tenha confiança em você”. Então preparei um roteiro de perguntas básicas que pudessem caracterizar um Ser Desperto, mas sem ficar restrito a este roteiro, deixando que falasse à vontade...

Consciência Lúcida: Qual foi a sua primeira impressão ao encontrar com o “Seu Manuelzinho”?
Jarbas Paranhos: Não criei muitas expectativas quanto a esta entrevista por já conhecê-lo desde criança. Minha Mãe sempre me levava para “tomar passe” com ele no  Centro Espírita Luz e Caridade. Mas a impressão que mais guardo do Manuelzinho era de um homem muito forte, fisicamente forte, provavelmente devido ao trabalho duro nas ferrovias, e sempre muito sorridente. Quando ele sorria seus olhos pareciam de um oriental. Tinha grande força presencial e transmitia muita segurança nos trabalhos parapsíquicos do Centro, parecendo muito atento e concentrado em tudo. Lembro que, durante minha adolescência, passei alguns episódios graves de assédio, então minha mãe me levava na casa do Manuelzinho e ele ficava algum tempo me olhando calmamente, dava um pequeno sorriso, e dizia: “Agora você vai para casa, toma um banho bem demorado e dorme. Amanhã você vai estar melhor”, e assim acontecia.

Consciência Lúcida: Ele citou, durante a entrevista, que envolta da casa havia um campo energético que não permitia a entrada de assediadores. O que foi possível perceber sobre essa questão?
Jarbas Paranhos: Fiquei muito surpreendido pela energia acolhedora e fraterna que senti ao entrar em sua casa. Percebi que tinha muito amparo naquele momento e que tudo correria bem. Sentamos na varanda de sua casa, embaixo de uma árvore, e pedi permissão para gravar a entrevista. Ele concordou e fiz a primeira pergunta. Fiquei surpreso com a desenvoltura com que discorria sobre os assuntos, pois até então o considerava reservado e de poucas palavras. Ele ficou muito satisfeito de saber que a entrevista seria “pro pessoal do Waldo”...

Consciência Lúcida: O que você achou das suas energias e das energias dentro do ambiente?
Jarbas Paranhos: As energias eram ótimas. Fiquei muito tranquilo e parecia que apenas “batia um papo” com um conhecido de milênios. Não houve nenhuma restrição de assuntos ou constrangimentos por parte dele.

Consciência Lúcida: Quais as lacunas do Manuelzinho que mais chamaram a atenção?
Jarbas Paranhos: Em minha opinião, as principais são devido ao baixo nível intelectual decorrente da falta de uma escolaridade formal, que ele procurou corrigir com autodidatismo limitado pelo enfoque religioso. Outra coisa que percebi é seu uso basicamente intuitivo do Parapsiquismo, ainda não conseguindo ter uma visão técnica, mais anímica, sobre seu uso, parecendo atuar principalmente como médium. É incrível que alguém com sua energia, equilíbrio emocional e uma vida dedicada a assistencialidade, boa parte dela parapsíquica, não demostre uma maior vivência multidimensional, principalmente no que se refere à Projeção Lucida. Não acho que ele tenha “escondido o leite”, como se diz em Minas, mas a meu ver parecia desconhecer que possuía esta capacidade. Mas isto não passa de especulação de minha parte, pois é difícil avaliar estas características, principalmente no nível de manifestação de um Desperto.

Consciência Lúcida: Falando em Espiritismo, o que você percebeu da relação que ele ainda tinha com a religião?
Jarbas Paranhos: O Manuelzinho era um religioso espírita, mas com uma visão mais assistencial do que preocupado com as ortodoxias da doutrina. A meu ver o Espiritismo foi para ele um veículo de expressão de uma benevolência inata, dentro do contingenciamento que dispunha. Não podemos negar que, de certa forma, isso foi muito inteligente de sua parte.

Consciência Lúcida: Ele sabia algo sobre suas vidas passadas?
Jarbas Paranhos: Na entrevista ele disse que teve informações, através da psicografia recebida por sua esposa, que teve uma vida como escravo. Mas ele mesmo não se refere sobre retrocognições ostensivas, mas apenas uma percepção, algo intuitivo, de uma vida onde havia atuado de forma anticosmoética no campo intelectual e devido a isso ter tantas dificuldades atualmente.

Consciência Lúcida: Vocês conversaram a respeito da afetividade ou da sexualidade, que estão entre as maiores dificuldades e brechas para os assédios em geral?
Jarbas Paranhos: Não especificamente sobre isso. Mas pelo que o conheço, é fácil incluir a correta vivência destes temas dentro do que ele chama de virtude ou moral que, segundo ele, são os principais fatores de auto e heterodesassédio que possuímos.

Consciência Lúcida: Como entrevistador, você se sentiu em algum momento irritado ou desconfortável ao interagir com ele? Aconteceu alguma assistência durante esse período?
Jarbas Paranhos: Muito pelo contrário, minha tranqüilidade e o holopensene do local permaneceram imperturbáveis durante toda a entrevista. Realmente não queria que acabasse, pois geralmente sou muito ansioso e vivenciar aquela tranquilidade era muito agradável.

Consciência Lúcida: Havia mais pessoas presentes durante a entrevista? O que mais chamou a atenção dos demais?
Jarbas Paranhos: Não. Apenas nós dois, intrafisicamente. Penso que a platéia extrafísica tenha ficado satisfeita com o resultado.

Consciência Lúcida: Em sua opinião, quais eram os trafores mais ostensivos de sua desperticidade?
Jarbas Paranhos: Equilíbrio íntimo, muita energia e uma predisposição assistencial diuturna.

Consciência Lúcida: De que forma você definiria sua entrevista com o Manuelzinho? O que foi marcante?
Jarbas Paranhos: Ainda me lembro do Manuelzinho na minha infância e adolescência indo de bicicleta ao Centro “dar passe” e participar de seções de desobsessão, na cadeia municipal, nos hospitais, orfanatos e asilos de Monte Carmelo fazendo assistência e, mesmo assim, nunca soube avaliar o grau de evolução daquele senhor sorridente. Penso que muito poucos de seus contemporâneos souberam. Minha principal intenção ao realizar esta entrevista foi corrigir esta falta de sensibilidade conscienciométrica de minha parte, provavelmente originada de um apriorismo tacanho em relação à diversidade de expressões que a evolução consciencial pode assumir. Temos no Serenão Reurbanizador o exemplo máximo desta relatividade da forma no contexto evolutivo. Outra intenção era introduzir esta consciência dentro do holopensene da Conscienciologia, com todo exemplarismo pesquisístico que as vivências de um ser desperto pode gerar para nós e para o Manuelzinho. Quantos questionamentos e debates foram gerados desta pequena entrevista no Tertuliarium e fora dele? Penso que o saldo foi muito positivo para ambas as partes.
“Agora, dia 3 de janeiro completam-se seis anos da dessoma do Manuelzinho e ele deve estar em um curso intermissivo de alto nível. Deixo aqui nossos sinceros agradecimentos por ter compartilhado conosco um pouco de suas vivências.”
Entrevista com Sr. Manoel Ferreira de Almeida
“SEU MANUELZINHO”

Jarbas: Fale-nos um pouco sobre sua vida. Onde nasceu, família e educação? Como, quando e por que se interessou pelos estudos espiritualistas?
Manuel: Tenho 86 anos, nasci em 1913 em João Pinheiro, Minas gerais. Eu não conheci meus pais. Frequentei a escola somente dois anos e logo comecei a trabalhar em uma olaria. Depois fui trabalhar como pedreiro em uma companhia de Patrocínio (Cidade de Minas Gerais) na construção de uma escola em 1929. Depois fui trabalhar na construção de uma usina em Araxá (Cidade de Minas Gerais) em 1930. Depois disso fiquei por aí trabalhando em olarias e construções. Em 1936 passei a trabalhar na construção de estradas de ferro, vindo a trabalhar e morar aqui em Monte Carmelo em 1943/1944. Neste intervalo conheci a filha de um ferroviário e me casei em 1947. Em 1948 tive uma filha. Nesta época não existia Espiritismo aqui não. Tinha apenas o Centro do “Seu” Jorge Fernando, mas que estava fechado. Era muito difícil, pois nesta época era o Catolicismo que mandava. Nesta ocasião minha filha ficou doente e os médicos não conseguiam curá-la. Até que alguém me disse para levá-la em um “curador” que vivia na “beira” do rio Paranaíba que ele iria curá-la. Eu fui lá e era um trabalho de umbanda. Eu não conhecia estes trabalhos e tinha medo de espiritismo, porque só ouvia falar coisa ruim do espiritismo! O Catolicismo punha medo no povo dizendo que era coisa do demônio! Os padres escondiam a verdade! Eu fui lá e vi pela primeira vez uma comunicação mediúnica na qual a médium me passou um preceito que não consegui cumprir. Mas achei aquilo importante, um sujeito analfabeto fazendo discurso igual a um padre, que é uma pessoa culta, mas que vive obrigado a esconder a verdade. O Catolicismo foi um fracasso porque não deixou o povo progredir colocando medo do inferno e da morte. Era proibido estudar a Bíblia, só os padres podiam. Até que Lutero pois a Bíblia nas mãos do povo com o protestantismo. Pois o grande mal da humanidade é a ignorância, a falta do saber. O saber e a virtude são como as asas de um pássaro, são necessárias as duas para que o espírito alce vôo às alturas. O homem que tem os dois é um espírito evoluído. É o que acontece com o Waldo.
Bom, mas nesta ocasião fiquei conhecendo que existiam espíritos que se comunicavam. Fui para Goiandira (Cidade de Goiás) e lá passei a frequentar o Kardecismo que tinha ouvido os outros falarem, principalmente “Seu” Jorge Candinho e através dele fiquei conhecendo a Doutrina Espírita. Ele me deu o “Evangelho segundo o Espiritismo” de Kardec. Voltei para Monte Carmelo e havia um “trabalho” na pensão do Remi em que morava um Senhor que fazia o “trabalho” na casa. Nesta ocasião havia estado aqui a D. Maria, uma médium famosa de vibração alta, mas que depois fracassou, pois o dinheiro é a tentação! Veja, o dinheiro é neutro, depende do que você faz com ele. Ele pode ajudar muito, mas também pode atrapalhar muito. Então esta mulher começou a trabalhar aí e só vendo que beleza! Mas depois passou a se interessar só por dinheiro e a fazer remédios para os outros e a cobrar. Fracassou! Nesta ocasião trabalhava com “Seu” Aparecido e fiquei conhecendo mais o espiritismo e fui trabalhando. Fui para Patrocínio (Cidade de Minas Gerais) e iniciei no trabalho espírita. Recebi então a comunicação dos meus pais, que não conheci, e que já haviam morrido. Isto me prendeu mais ao Espiritismo. Desde 1947 venho trabalhando no Espiritismo e estudando com dificuldade, pois não tive “principio”. Para você desenvolver o saber é preciso ter um alicerce, frequentar colégios e aprender as bases da ciência materialista e eu não tinha isso, então era difícil. Eu aprendi a ler com o evangelho. Tinha muita facilidade para aprender, mas não pude frequentar a escola. Aprendi a ler e “fazer contas” sozinho, mas não pude continuar a estudar. Talvez porque eu precisasse desenvolver outras coisas, né?
Em 1948 veio para Monte Carmelo o Joaquim Veloso e começamos o trabalho no Centro dele. Eu Passei a frequentar lá à noite, pois trabalhava 12 horas por dia na ferrovia e não tinha tempo para nada, só à noite. Mas minha mulher à noite ficava cega, então tive que realizar os trabalhos em minha casa mesmo. Então começou a juntar gente demais e arranjei um barracão perto do colégio em um beco escuro. Depois conseguimos comprar um lote e lá construímos o nosso centro e lá estamos trabalhando até hoje. Nossa vida é uma viagem, o negócio é aproveitar bem esta viagem. E a mola real da vida e do progresso do espírito é a caridade. E a caridade não é só dar dinheiro, eu nunca tive dinheiro! A caridade de mil maneiras se pratica. Às vezes com pequenas coisas como conversar com um velho analfabeto como eu (Risos). Eles falam que o velho tem a experiência e o novo tem a força, se ligássemos as duas faríamos muitas coisas. Se o velho pudesse e o novo soubesse... Pois a pessoa até os 40 anos é dominada pela força do corpo, a força material, fica vaidoso e só quer satisfazer as necessidades do corpo. A partir do 40 anos ele começa a pensar, ponderar, equilibrar as forças e a dominar o corpo. O corpo é o tirano do espírito quando se é jovem. Mas chega nesta época o corpo começa a declinar e o espírito passa a dominar. É difícil o moço que firma! Eu mesmo fui católico comedor de hóstia, mas eu ia mais à igreja para arrumar namorada do que rezar (Risos)! Nesta época eu tinha medo do espiritismo, não passava nem na porta de centro espírita. Isto é ignorância! O Espiritismo foi uma luz neste mundo. As três melhores coisas que tive foi o espiritismo, meu emprego e meu casamento. Do emprego me aposentei há 27 anos, minha mulher morreu há 10 anos, então só ficou o espiritismo.
E veja você à juventude. Os jovens se viciam para ter companheiros, mas se ele se livra do vício fica sozinho. Toda pessoa sem vícios aprende a viver sozinho. Veja os grandes pensadores, os grandes sábios viveram sozinhos. E não se incomodem muito com o dinheiro não, se apegando demais a ele. Por que você vai viver de qualquer maneira, sempre há de arranjar o que comer. As coisas mais preciosas são aquelas que levamos conosco, dentro de nós, que é o saber! Agora o dinheiro é ruim é no bolso dos outros (Risos)! Porque o dinheiro é neutro, depende do que você faz com ele. Sem ele não se desenvolve nada!

Jarbas: O Senhor acha importante o desenvolvimento da mediunidade (Parapsiquismo) para o melhor cumprimento da nossa missão de vida (Proéxis)?
Manuel: É porque nós somos um instrumento de Deus. Todos nós somos. E Deus se manifesta na terra através da mediunidade desde os primitivos tempos. Jesus era um grande médium. Todos os profetas eram médiuns. Se você não desenvolve a mediunidade fica igual a uma máquina dura que quando puxa ela se arrasta. Se você a desenvolve, você puxa e ela responde com rapidez. Ela deve ser desenvolvida, mas não a força. No desenvolvimento da mediunidade deve haver uma tendência para o bem. É preciso desenvolver primeiro a intenção para o bem, devagar. A evolução não dá salto. Você vai tendo uma experiência aqui, outra ali, aproveitando para aprender sorrindo para uma pessoa e fazendo caridade. O sorriso é uma caridade para uma pessoa triste, pois transmite boas energias para esta pessoa. Isto é mediunidade! Hoje o mundo desenvolveu muito, verdade que mais no lado tecnológico, o sentimento está fraco, mas mesmo assim está havendo progresso. É vantagem desenvolver a mediunidade principalmente se você tem um sentimento de amor pelos outros. Aí você pode fazer muita coisa com a mediunidade. Olha o Chico Xavier, sujeito inculto, tem somente o curso primário, mas foi o instrumento de uma coisa extraordinária. Deve ter feito mais pela Terra que o próprio Kardec.

Jarbas: Quais os tipos de mediunidade o Senhor já desenvolveu? Como se deu este desenvolvimento?
Manuel: Minha mediunidade é somente inspiração. Eles me ajudam. Eu fui tolhido na minha vida com a pobreza. Eu criei oito filhos. Eu tinha vontade que eles estudassem. Então tudo que eu mais preocupava em fazer no mundo era para que eles estudassem. Então tudo foi difícil, pois tudo depende de dinheiro. Hoje minha filha é minha “escora” (apoio) no centro. Nós demos o exemplo, seguiu quem quis. Eu dei meu exemplo e ensinei que o importante era o estudo, trabalho e oração. Minha filha é que é clarividente.

Jarbas: O Senhor acha importante o desenvolvimento do Desdobramento (projeção lúcida) para nossa evolução pessoal? O Senhor produz desdobramentos pela própria vontade?
Manuel: Não tenho desdobramento não. Esta é uma mediunidade mais rara e perigosa. De vez em quando aparece um para mim com isso. Eu digo para estudar e se preparar. Um dia desses apareceu um rapaz que tinha usado drogas e tinha se desdobrado. Ele dormiu por três dias. Era a mãe dele de outra vida que queria levá-lo de toda maneira. Ela achava que ele era dela. Falei para ele largar as drogas senão ele ia e não voltava mais.

Jarbas: O Senhor acha que a projeção lúcida, como ferramenta de assistência as pessoas, perigosa?
Manuel: A mediunidade é igual a uma faca de dois cortes, se preparada ela corta bem, se não ela corta sua mão. O desdobramento é muito bom porque - já pensou? - sair do corpo, ir a uma colônia espiritual (Comunex) e trazer uma informação nova de lá? Porque eu conheço estas colônias espirituais somente através de livros. Imagina se eu pudesse ir lá? Toda mediunidade é muito boa se você se preparar. Você vê quantos médiuns estão ai roubando, enganando e fazendo todo tipo de absurdo! Outros matando pessoas à toa! Tudo isso é mediunidade deseducada. Eu em uma vida passada fui escravo e me identifiquei com um espírito que foi escravo e que trabalha comigo. É um preto velho.

Jarbas: Como o Senhor identificou esta vida? O Senhor lembrou?
Manuel: Não. Foi minha mulher, que era médium, que recebeu a comunicação. Então eu tenho todo o jeito de escravo. Eu nunca sonhei com coisa elevada. Eu só me vejo em sonho realizando trabalho escravo, serviços grosseiros, só isso. Então eu me identifiquei com esse espírito de preto velho que chamo de Pai Tomé. Sou inspirado por ele. Sou médium de incorporação, mas sou muito consciente e tenho medo de faltar com a verdade, então não trabalho como médium. Porque a inspiração é assim: o espírito lembra você daquilo que você sabe! Eu já fui orador, mas agora não falo mais. Antes eu falava inspirado pelos espíritos. Mas este espírito Pai Tomé foi depois, porque fui obrigado. Meu filho foi trabalhar em São Paulo e ficou obsidiado lá. Veio para cá e eu o levei para tratar em Uberaba e ele piorou. Então o trouxe para cá e um espírito comunicou que ele só melhoraria na Umbanda, então eu o levei. Lá então os espíritos falaram que meu lugar era ali e que estava no caminho errado. Mas coisa melhor que a Ciência não tem! Umbanda é mais grosseira, quase sempre com pessoas analfabetas, deseducadas. São médiuns, fazem muitos trabalhos importantes, mas não se incomodam em se corrigir, cultivam a embriaguez e certas libertinagens. Coisa de quem não estuda. Então quando meu filho melhorou, eu não quis voltar mais lá. Foi muito bom, são pessoas de boa vontade, mas sem cultura. Começam lá e acabam indo para outras religiões, não se firmam em nada, pois são vazios de conhecimento. A pessoa se alicerça é nos estudos! O Espiritismo é um passo avançado, é uma religião dada pelos espíritos e nós somos espíritos. Esta carcaça é passageira, o que importa é o espírito. O estudo é coisa de Deus! Veja o Cientista em seu laboratório pesquisando um novo remédio que ajudará milhões. Há obra mais bonita? Ele é um médium, pois deve ter muitos espíritos o inspirando e o ajudando.

Jarbas: O Senhor percebe que está sendo assediado por consciências extrafísicas? Como se dá esta percepção?
Manuel: Percebo. Pelo ambiente do local, pelo fluido que emana da pessoa, pelo tipo do seu corpo, pelo jeito da pessoa olhar. Tudo isso da para perceber se aquela pessoa ou aquele local está obsidiado. Porque você se afiniza com as pessoas ou espíritos pelo sentimento. Se seu sentimento é grosseiro você vai atrair sentimentos grosseiros. Não há céu ou inferno não. O inferno ou o céu está dentro de nos mesmos. É nossa consciência. Falam que agora é a época, que na verdade já começou a algum tempo, em que vão separar os lobos das ovelhas. Vão separar porque não é possível, a Terra virou um inferno, não há sossego em lugar nenhum. As pessoas estão desencarnando e não voltam para Terra mais. Você vai ver a transformação da Terra. Porque a transformação da Terra é a transformação dos homens. A Terra é a mesma, o problema é a vibração dos pensamentos dos homens. Porque o pensamento é a maior força que tem na Terra. Então na medida em que forem separando vai ocorrendo à transformação. Você veja, o povo está melhorando, no meio de tanta maldade há muita coisa boa na Terra. Estão começando a dar mais valor à criança. Porque a criança é o futuro. Você que é jovem pode fazer muito pela Humanidade pelo seu próprio exemplo de viver. O Mal não é o jardim, o mal é o jardineiro. Às vezes eles baseiam o espiritismo pelos atos errados de algumas pessoas. Nós somos fracos. Nós erramos mesmo. Não é porque alguns espíritas erram que o Espiritismo é ruim. Você veja, este trabalho que o Waldo Faz já é mais elevado, não é para mim que sou praticamente analfabeto, meu trabalho é mais grosseiro. Eu até li aquele livro dele que me emprestaram.

Jarbas: O livro “Projeções da Consciência”?
Manuel: É. Este. Achei impressionante quando ele fala que saia do corpo e pegava o menino dele e ia voar pela praia, por cima do mar! É o sujeito ir e trazer o recado que é difícil. Porque a gente sonha toda noite que está com os espíritos, mas não lembra nem da metade. É raro uma pessoa contar um sonho inteiro. Isto faz parte da evolução do espírito.

Jarbas: Como o Senhor se defende destes obsessores (Assediadores)?
Manuel: O obsessor você se defende dele com sua própria moral. Porque é como as trevas. As trevas não aguentam a luz. Então você se defende não é só com argumentos, mas com amor também. Tem doutrinador espírita que “peleja” para desobsidiar e às vezes com poucas palavras a gente consegue. Porque agente vê nele um irmão, um espírito doente que você deve tratar como o próprio filho. Eu trabalho assim. Conheço doutrinadores muito inteligentes que não conseguem muita coisa, pois falta a ele amor. Tinha um rapaz obsidiado que vinha aqui em casa e os guias (Amparadores) não deixavam os obsessores entrar e eles ficavam atrás do muro gritando com ele. Ele queria discutir com os espíritos! Eu falava: Não senhor, aqui não! Vamos fazer leituras e nos concentrar aqui.

Jarbas: Qual foi a última vez que o senhor percebeu que estava sendo obsidiado? Qual atitude tomou?
Manuel: Não! Nunca tive isso não! Porque toda hora que você fica com raiva de alguém, com vontade de fazer o mal para alguém você está obsidiado. A pessoa vai discutir com você, você não firma nele não porque a palavra tem um magnetismo terrível! Se ele esta discutindo então você pensa alto, elevado, o deixa falar primeiro aí você fala com acerto. Agora se você responde no mesmo nível, com raiva, você já esta obsidiado, dominado!

Jarbas: O Senhor consegue ativar suas energias pela própria vontade, quando e onde quiser, visando o desassédio próprio e de outras pessoas? O senhor utiliza algum método?
Manuel: É. Às vezes até tem esta energia, mas eu sou muito incapaz para isso. Eu uso é um pouquinho que sei com o nome de Jesus. É o pensamento que é a maior força que tem na Terra. O pensamento no bem. Com o pensamento no bem espírito nenhum dá conta de chegar. Agora... enquanto estou aqui falando com você, existe um círculo magnético em volta da casa. Obsessão não entra aqui não! Entra não! É a nossa energia, nossa capacidade de pensar no bem. Se nós começarmos a pensar balela aqui, eu abro as defesas e eles desembocam tudo aqui. Nós temos um obsidiado aqui, um rapaz que foi um gozador da vida em outra encarnação, ele vivia dando golpe, de dia dormia e de noite estava na boemia. Era muito inteligente e pensava muito rápido, então estava sempre na frente dos outros e usava isso para passar a perna. Agora nesta sua encarnação ele foi tolhido de sua inteligência para poder expiar o passado. Fica aí, obsidiado, não incomoda com dinheiro, roupa, com nada! Nós então procuramos controlar ele aqui mantendo um ambiente sadio. Se deixo cair o ambiente aqui os obsessores dele desembocam tudo aqui e arrebentam com tudo! De vez em quando um consegue entrar e tenta jogar um de nós contra os outros. É o que está acontecendo em quase toda casa. As famílias não se entendem mais. Os casais não estão se entendendo mais. Porque eles dão abertura para isso! Não vigiam seus pensamentos! Quando eu fiquei conhecendo o espiritismo lá na beira do rio, o médium disse: “Ih! Acordou tudo, espíritos que estavam dormindo há mais de 300 anos nas trevas estão tudo aí no meio de vocês!” Então virou este inferno! Porque eles também têm o direito de estar aqui e experimentar a vida. Porque a vida é uma experiência.

Jarbas: O Senhor promove acoplamento de sua aura com a de outras pessoas para assistência e desobsessão?
Manuel: Não. Com o obsessor e o obsidiado é com conversação, ensino, um conselho que a gente dá sustentado pela moral da gente. Tanto que se você quiser desenvolver a mediunidade, você deve primeiro desenvolver o sentimento. Não é só o saber não. Desenvolvendo isso você fica simpático aos bons espíritos e eles te ajudam de acordo com seu nível de pensamento ideal, elevado e sentimento no bem. Eles te usam. Usam nosso material: o saber e o sentimento amoroso. Estes dias me chamaram para atender um homem. Cheguei lá e o homem estava cheio de saias e tinha recebido um espírito. Espírito não tem forma! Para que aquele tanto de coisa? Quando eu estendi as mãos ele veio para cima de mim: “O que o Senhor deseja?”; “Eu quero te dar um passe”. Acabou! Ele melhorou. Este povo que procura a Umbanda quer arrumar namorado, fazer viajem, ganhar dinheiro e curar doenças do corpo. Nós devemos principalmente curar as doenças da alma.

Jarbas: O Senhor falou que sente o fluido da pessoa. Como o senhor explica este fluido? Como percebe este fluido?
Manuel: Me dá aquela energia que sai de mim para a pessoa, principalmente quando levanto para falar. Eu falo alto, expressivo, com português correto.

Jarbas: O Senhor consegue ativar esta energia pela sua própria vontade, quando quiser?
Manuel: Ela vem porque eu faço minha parte. Porque a energia esta aí conosco a toda hora. Quando você quer fazer alguma coisa para o bem então ela já vem te ajudar. Se for para o mal ela também pode vir. Se você pensa mal você atrai a energia que sintoniza com isso. Mas a energia vem e por isso eu a chamo de inspiração. Agora eu aconselho muito que se abrace uma árvore e absorva sua energia, principalmente mangueira, eucalipto. Eu raramente faço isso. Eu busco energia é com o pensamento. Tanto que os outros dão passe só se concentrando. Eu não. Eu dou passe é conversando. Porque eu falo. Como sou grosseiro ainda, eu preciso da imagem, e a palavra é uma imagem. Então eu uso a imagem da palavra, da prece, e isso me ajuda na concentração. Esqueço tudo que esta em volta, estendo a mão e é como se estivesse sozinho. Se for um ambiente preparado ele me ajuda, se não eu uso a palavra. Então esta energia está aí e cada dia eu descubro novas energias. É uma beleza! É só você usar! Tem que trabalhar nela, no sentimento, usando para o bem.

Jarbas: O Senhor sofre ou já sofreu variações de humor repentinas?
Manuel: Não. Algumas vezes a pessoa quer abusar de mim, me insultar. Mas eu tolero bem porque eu penso que qualquer coisa que eu fizer aqui reflete na minha família, nos meus filhos. Porque eu sempre fui forte devido ao trabalho grosseiro, mas eu tolerava, recebia aquele choque, aquela vibração ruim, mas não firmava nela. Isto é energia, né?

Jarbas: O Senhor nunca sofreu obsessão então?
Manuel: Não, não. Mantive sempre a serenidade, porque esta vida é uma viajem muito interessante. Uma ocasião eu estava em Patrocínio (MG), tinha 19 anos e um sujeito deu parte na Polícia que eu era o ladrão que tinha roubado sua casa. Mas o Delegado me conhecia e me defendeu. Então apareceu um amigo e me disse: “Você vai matar este sujeito que te acusou! Se ele não provar que foi você que roubou você mata ele!”. Me instigou. Então eu respondi: “Não vou fazer isso não porque eu vou morar aqui e ele vai ver que eu não sou nenhum ladrão”. E assim tudo passou, eu morei lá mais sete anos e não teve nada. Se eu tivesse sido influenciado como estaria minha vida? A vida é assim. Na ferrovia meu patrão abusava tanto de mim que o Diretor chegou a brigar com ele. Porque se eu quisesse eu poderia bater nele, eu era muito mais forte, mas aí atrapalhava porque eu perderia o emprego e poderia ir até para a cadeia. De modo que estas coisas não me incomodam, não.

Jarbas: O Senhor já sofreu algum acidente grave ou trauma psíquico que tenha mudado sua vida?
Manuel: Psíquico não. Acidente material muitas vezes, inclusive um sujeito pegou uma arma e não sabia que tinha bala e atirou. A bala pegou em mim, na bacia e está aí até hoje. Eles queriam que eu o denunciasse na Polícia, mas eu disse que ele não tinha culpa. Foi um acidente. Ele foi vítima de um engano. Eu também já fui vítima muitas vezes de enganos. É a viajem da vida e se a gente tiver calma, tudo vai bem. Humildade e calma. Porque a gente não está sozinho, os espíritos estão conosco. Eu agradeço muito a eles porque não conheci meus pais, vivi sozinho e não aprendi a beber, a jogar, a fumar, nem nada destas coisas. Este foi o exemplo que dei para meus filhos.

Jarbas: Como o senhor vê o atual momento pelo qual passa o nosso planeta?
Manuel: O mundo está em transição. É a época da grande transição. Está se transformando e sempre para melhor. A Terra nunca esteve tão bem como agora. Estas tragédias que estão acontecendo, os problemas do clima já estão previstos. Vai ficar uma minoria do povo na Terra, quase todos serão desencarnados para a grande separação. A Terra está com uma falta de elevação moral muito grande, então vão separar os bons dos maus. Falam até que serão levados para um planeta mais atrasado e que isso esta causando nervosismo no povo. Mas as coisas não ficam paradas não. Tudo se transforma. Olha a transformação de 1900 até hoje. É enorme. E tudo para melhor. Quando eu era menino só existia o rádio e depois, só há pouco tempo chegou à televisão. Mas já tinha falado no livro Nosso Lar do Chico Xavier. A gente não tinha notícia de lugar nenhum. Hoje a comunicação está fácil, é uma riqueza, uma alegria para nós. A Terra está se transformando através da transformação do homem. A inteligência do homem está cada vez mais aguçada e isso está transformando o mundo. Consertando o homem conserta-se o mundo. Mas o homem está acabando com as plantas e os animais. Onde estão as frutas silvestres, a mangaba e tantas outras? Acabou tudo! Quando modificarmos nossas tendências o mundo vai ficar bom. Quando conseguirmos amar. É a recomendação do Cristo: Amar uns aos outros como eu vos amei. Isto ainda está longe. Mas a gente chega lá. Nós somos iguais a uma pedra jogada de cima de um monte, na medida em que vai rolando, vai quebrando as quinas, ficando lisa e rolando mais rápido. Hoje a gente ainda não pode confiar em ninguém.

Jarbas: O Senhor gostaria de falar mais alguma coisa?
Manuel: Não. É só isso. Agora é bom a gente ser pobre enquanto a gente ainda não sabe lidar com o dinheiro. A maior parte das pessoas não sabe. Pobre sim, mas não miserável! Mas contanto que não falte o necessário. Para quê mais do que isso? Tirando as dores de velho eu até que sou feliz! (Risos)
 

Obs. 1: Texto extraído do site:

http://www.consciencialucida.com.br/2011/12/encontro-com-ser-desperto.html

Obs. 2: A Aliança Municipal Espírita de Monte Carmelo homenageou este grande homem, nomeando a Semana Espírita Carmelitana que acontece sempre no mês de março com seu humilde nome.

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