Pelo Espírito Irmão X (Humberto de Campos). Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Livro: Doutrina e Aplicação. Lição nº 05. Página 35.
Conta-se que Bezerra de Menezes, o denotado apóstolo do Espiritismo no Brasil, após alguns anos de desencarnação, achava-se em praia deserta, meditando tristemente quanto à maioria dos petitórios que lhe eram endereçados do mundo.
Em grande número de reuniões consagradas à prece, solicitavam-lhe providências de natureza material. Numerosos admiradores e amigos rogavam-lhe empregos rendosos, negócios lucrativos, alojamentos, proteção a documentários diversos, propriedades e promoções.
Em verdade, sentia-se feliz, quando chamado a servir um doente ou quando trazido à consolação dos infortunados, porém, fora na Terra um médico espírita e um homem de bem, à distância de maiores experiências em atividades comerciais.
Por que motivo a convocação indébita de seu nome em processos inconfessáveis? Não era também ele um discípulo do Evangelho, interessado em ascender à maior comunhão com o Senhor? Não procurava aprender igualmente a lutar e renunciar?
Monologava, entre inquieto e abatido, quando viu junto dele o grande Antonio, desencarnado em Pádua, no ano de 1231. O herói admirável da Igreja Católica, nimbado de intensa luz, ouvira-lhe o solilóquio amargo.
Abraçou-o, com bondade, e convidou-o a segui-lo. A breves minutos, ei-los ambos no perfumado recinto de grande templo.
O santuário, dedicado ao popular taumaturgo, regurgitava de fiéis que se prosternavam, reverentes, diante da primorosa estátua que o representava, sustentando a imagem de Jesus Menino.
O santo impeliu Bezerra a escutar os requerimentos da assembléia e o seareiro espírita conseguiu anotar as mais estranhas e inoportunas requisições. Suplicava-se a Antonio casa e comida, dinheiro fácil e saliência política, matrimônio e proteção. Não faltava quem lhe implorasse contra outrem perseguição e vingança, hostilidade e desprezo, inclusive crimes ocultos.
O amigo e benfeitor esboçou um gesto expressivo e falou bem humorado, ao evangelizador brasileiro:
- Observaste atentamente? As petições são quase sempre as mesmas nos variados campos da fé.
Sequioso de burilamento íntimo, troquei na Igreja o hábito de cônego pelo burel dos frades... Ensinei a palavra do Mestre Divino, sufocando os espinhos de minhas próprias imperfeições. Fosse nas seduções da vida secular ou na austeridade do convento, caminhava mantendo pavorosas batalhas comigo mesmo, ansiando entesourar a virtude, em cujo encalço permaneço até hoje, entretanto, procuram-me através da oração, por meirinho comum ou por advogado casamenteiro...
E, por que Bezerra sorrisse, reconfortado, aduziu?
- Nosso problema, no entanto, é o de instruir sem desanimar. Jesus no monte sentiu extrema compaixão pela turba desvairada, alimentando-lhe o corpo e clareando-lhe a alma obscura...
Nesse justo momento, surge alguém à cata de Bezerra.
Num círculo de oração, organizado na Terra, pediam-lhe indicações para que fosse descoberto um enorme tesouro de aventureiros antigos, desde muito enterrado.
Antonio afagou-lhe os ombros e disse benevolente:
- Vai, meu amigo, e não desdenhes auxiliar. Decerto, não te preocuparás com o ouro escondido, mas ensinarás aos nossos irmãos o trato precioso do solo para a riqueza do pão de todos e, descerrando-lhes o filão do progresso, plantarás entre eles o entendimento e a bondade do Excelso Amigo.
Bezerra despediu-se, contente, e tornou corajoso à luta, compreendendo, por fim, que não bastaria lamentar a atitude dos companheiros invigilantes, mas auxiliá-los com todo amor, consciente de que o Cristo é o Mestre da Humanidade e de que o Evangelho, acima de tudo, é obra de educação.
1831
Nasce em 29 de agosto, no Riacho do Sangue, Estado do Ceará sendo seus pais: Antônio Bezerra de Menezes e Fabiana de Jesus Maria Bezerra.
1838
entra para a escola pública da Vila do Frade.
1842
continua seus estudos no Rio Grande do Norte, Serra do Martins, Vila da Maioridade.
1844
com 15 anos de idade, substitui algumas vêzes o professor nas aulas de latim.
1846
completa seus estudos preparatórios no Liceu de Fortaleza.
1851
embarca em 5 de fevereiro para a Côrte a fim de fazer o curso de Medicina.
1852
praticante e interno no Hospital da Santa Casa da Misericórdia.
1856
doutora-se em Medicina, obtendo em todos os anos do curso a nota "Optima cum Laude"!
1857
sócio efetivo da Academia Imperial de Medicina.
1858
cirurgião-tenente do corpo de saúde do Exército.
casa-se em 6 de novembro com D. Maria Cândida de Lacerda.
1859
redator dos Anais Brasilienses de Medicina até 1861.
1860
a insistência dos moradores da freguesia de São Cristóvão inclui seu nome na lista de candidatos à vereança
do Partido Liberal.
1861
empossado no cargo de vereador demite-se do cargo de Secretário interino do Corpo de Saúde do Exército.
1863
falece sua espôsa D. Maria Cândida de Lacerda em 24 de março, deixando-lhe dois filhos.
1864
reeleito para o cargo de Vereador para o período 1864/68.
1865
casa-se em 21 de janeiro com D. Cândida Augusta de Lacerda Machado com quem teve sete filhos.
1867
presidente interino da Câmara Municipal da Côrte.
deputado Geral pelo Distrito da Côrte.
1873
reeleito vereador para o Distrito da Côrte até 1881.
1875
inicia o estudo do Espiritismo.
1877
presidente interino da Câmara Municipal da Côrte.
1878
presidente efetivo da Câmara Municipal da Côrte até 1881,
novamente Deputado Geral pelo Distrito da Côrte até 1885.
inclusão de seu nome na lista Senatorial do Ceará.
1879
homenagem dos súditos portuguêses residentes na Côrte ofertando-lhe seu retrato a óleo em tamanho natural pelo pintor Augusto Rodrigues Duarte.
1885
encerra suas atividades políticas no pôsto de Presidente da Câmara Municipal e deputado Geral Pelo Distrito da Côrte.
1886
em 16 de agôsto proclama, pùblicamente, sua adesão ao Espiritismo.
1887
inicia sob o pseudônimo de MAX uma série de artigos doutrinários espíritas em "O Paiz", jornal dirigido por Quintino Bocayuva e no "Reformador", órgão da Federação Espírita Brasileira.
1889
presidente da Federação Espírita Brasileira e do Centro Espírita do Brasil.
1890
Vice-Presidente da Federação Espíria Brasileira.
Representação em defesa do Espiritismo ao Marechal Deodoro da Fonseca
1891
Vice-Presidente da Federação Espírita Brasileira.
Traduz o livro "Obras Póstumas" de Allan Kardec, editado em 1892.
1893
Representação em defesa do Espiritismo ao Congresso Nacional.
1894
Diretor efetivo do Centro da União Espírita de propaganda no Brasil.
1895
Presidente da Federação Espírita Brasileira.
reeleito Presidente até sua desencarnação ocorrida em:
1900
dia 11 de abril às 11 horas e 30 minutos no Rio de Janeiro.
ADOLFO BEZERRA DE MENEZES
Foi membro:
Academia Nacional de Medicina e honorário da secção Cirúrgica.
Instituto Farmacêutico
- Sociedade de Geografia de Lisboa.
- Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.
- Sociedade Físico-Química.
- Sociedade Propagadora das Belas Artes.
- Sociedade Beneficência Cearense, (Presidente).
- do Conselho do Liceu de Artes e Ofícios.
- Companhia Carris Urbanos de São Cristóvão, (Presidente).
- Companhia Estrada de Ferro Macaé a Campos, (Fundador).
- Companhia Arquitetônica, (Diretor).
Artigos e Obras publicadas:
- Diagnósticos do Câncer.
- Algumas considerações sôbre o cancro, encarado pelo lado do seu tratamento.
- Das operações reclamadas pelo estreitamento da uretra.
- Biografia do Visconde do Uruguai, Paulino José Soares de Souza.
- Biografia do Visconde Caravelas, Manoel Alves Branco.
- A Escravidão no Brasil, e medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a Nação.
- Breves considerações sôbre as sêcas do Norte.
- Os Carneiros de Panúrgio.
- A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica ou Uma Carta de Bezerra de Menezes.
- A Loucura sob Nôvo Prisma.
- Espiritismo, (Estudos Filosóficos).
- Os Mortos que Vivem.
- Segredos da Natura.
- A Pérola Negra.
- Evangelho do Futuro.
- Lázaro, o Leproso.
- História de um Sonho.
- O Bandido.
- A Casa Assombrada.
- Viagem através dos Séculos.
- Casamento e mortalha, (incompleto).
- Redigiu a "A Sentinela da Liberdade" no período de 1869/70.
- Artigos doutrinários espíritas no jornal "O Paiz" no período de 1877 a 1894.
- Redator-chefe do "Reformador", órgão da Federação ESpírita Brasileira.