quarta-feira, 8 de maio de 2013

Oração do Matuto / Terapia dos Passes

Oi Deus, nóis ta sempre pedindo
as coisas pro Sinhô
Nóis pede dinheiro
Nóis pede trabaio
Nóis pede pra chovê, e se chove demais
nóis pede pra Pará mode a
coieita num farta
Nóis pede amo. Nóis pede pra casá
Nóis pede casa pra morá
Nóis pede saúde
Nóis pede proteção
Nóis pede paiz
Nóis pede pra desl indá os nó quano
as coisas cumpricá,
Mode a vida corre mio.
Quano a coisa aperta nóis reza pedindo
tudo que fartá.
É uma pedição sem fim, e quano as coisas
dá certo nóis vai na igreja mais perto
e no pé de algum Santo
que seja de devoção, nóis deixa uns
mirreis e lá nos cofre,
da frente nóis coloca mais uns tostão.
Mas hoje Meu Sinhô bateu uma coisa
isquisita e me puis a matuta.
Nóis pede e pede.
Mas nóis nunca pergunta come
que o sinhô ta.
Se ta triste, ou ta contente.
Se percisa darguma coisa que a
gente possa ajudá.
E por esse esquecimento,
o sinhô há de adescurpa.
Oi Deus, nóis sempre pensa que o
sinhô não percisa de nada,
mais tarvêz não seja assim,
Tarvêz o sinhô percisa de mim.
Sim...
O sinhô percisa sim.
Percisa de minha bondade.
Percisa de minha alegria.
Percisa da mi n ha caridade.
No trato c´os irmão.
Nóis semo a Sua Criação.
Nóis num pode fazê feio.
Nem fica fazeno rodeio.
Mode desaponta o sinhô.
Nem amargá o seu sonho, que foi seu
sonho de amo,
quando essa terra todinha crio.
Oi Deus, eu prometo vô rezá de outro jeito.
Vô para com a pedição e troca
milagre por tustão.
Tarvêz até eu perca uma graça mas antes
eu vô vê direitinho o que é que
andei fazeno de bão.
E se nada de bão eu encontrá
muito vou me envergonhá
e ainda vô te pedi perdão.
(Autor desconhecido)


     De quando em vez, ouves alguém te dizer que se encontra necessitado de ir ao Centro Espírita para “tomar uns passes”...

- A qualquer hora – dizem os que assim se expressam –, lá comparecerei, porque estou muito necessitado de uns passes...

E complementam:

- Qual é mesmo o dia da reunião?...

A culpa de tão grande equívoco, quanto à finalidade de um Centro Espírita, não pertence somente a eles, que, com certeza, de Espiritismo não sabem absolutamente nada.

Vocês me desculpem a franqueza, mas a culpa maior é nossa mesmo, ou seja, dos espíritas, que, infelizmente, vêm desvirtuando o Centro Espírita da real tarefa que deve cumprir junto à comunidade.

Centro Espírita não é para livrar ninguém de seus “encostos”, nem para aliviar o peso de quem se encontra “carregado”, para que, depois, ele continue aprontando como sempre aprontou...

Quanta ignorância, da parte de quem continua a ver na religião única e tão somente uma espécie de muleta para quando ele estiver trôpego!

Todavia, enquanto nós não transformamos os Centros Espíritas naquilo que eles, verdadeiramente, devem e precisam ser – Universidade do Espírito –, a Doutrina continuará pagando o preço de nossas limitações no que tange ao seu conhecimento e aplicação.

Não ignoramos que, sem dúvida, o Centro, a encarnados e desencarnados, é um pronto-socorro e um hospital, mas, acima de tudo, deve ser oficina de trabalho e escola.

Precisamos, sim, começar a modificar esta mentalidade em quem recorre aos seus préstimos espirituais apenas para “tomar uns passes” – e esta tarefa cabe aos diretores da Instituição pela qual se responsabilizam, que, sem mais demora, sobre a Mediunidade, devem começar a priorizar o estudo da Doutrina nas reuniões abertas ao público.

Talvez, muitos venham alegar que o passe, a água magnetizada, o trabalho de cura e a conversa com os Guias nas reuniões de mediunismo, atraem grande público para o Espiritismo – podem atrair público, mas não atraem adeptos esclarecidos!

E depois, a Doutrina, em tempo algum, se preocupou com o chamado “proselitismo de arrastamento”... Se a Fé Espírita é Raciocinada, evidentemente, que todos somos chamados a refletir sobre os seus postulados, estudando-os e assimilando-os, gradativamente.

Como costuma dizer o preclaro amigo Odilon Fernandes, não é a toa que o Espiritismo é a Religião do Livro!

Em um Centro Espírita que pretende mais bem servir ao Ideal, o estudo da Doutrina precisa ser incrementado, e não somente para grupos fechados – o estudo deve ser aberto a todos, de preferência, sendo levado a efeito nas reuniões públicas.

O estudo primeiro, e o passe depois!

Não há outra maneira de fazermos com que as pessoas, em geral, vejam o Espiritismo com maior seriedade, e como sendo fundamental para que a sua visão da Vida se modifique substancialmente.

INÁCIO FERREIRA /CARLOS BACELLI

Uberaba – MG, 15 de abril de 2013.

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